quinta-feira, 18 de março de 2010

Resenha: Onde vivem os monstros

     Ao ler o post de minha amiga Darly sobre a trilha sonora de "Onde vivem os monstros" ("Where The Wild Things Are" -USA/2009), não resisti. Tive como primeiro impulso comentar logo sobre esta pequena obra-prima da literatura infantil, que de forma bastante competente foi recriada para o cinema.
    Mesmo sendo baseada em uma obra literária infantil, o filme arrebata em cheio aos mais velhos, remetendo-os aos anseios de suas infâncias, bem como aos momentos de solitude da vida adulta (se levarmos em consideração uma outra escala). Quem nunca se sentiu sozinho em meio a uma multidão? Deslocado? Incompreendido? Quem nunca fugiu de si e dos outros?
     A narrativa se inicia com Max, um garoto que vive junto a sua irmã mais velha e sua mãe, brincando isoladamente. Quando a atenção da sua irmã é requerida pelo mesmo, não obtem êxito, dexando-o cada vez mais melancólico. Quando a atenção da sua mãe é dividida pelo novo namorado, uma crise de ciúmes é desencadeada, levando ao embirramento da criança e a uma discussão da qual é fundamental para todo o desenrolar do filme. É a partir dela que Max foge e encontra uma ilha povoada por "monstros".
     Totalmente submersos no mundo de Max, apresentado nesta parte introdutória do filme, sentimos grande identificação com o protagonista, que por sua vez se identifica imediatamente por um dos monstros aparentemente "incompreendido" pelos outros (Carol). E a identificação para ambos é mútua. Em uma das cenas, o monstro cheira o garoto, para efeito de reconhecimento, e este revide. Nuances como essas fazem com que ele seja elevado a categoria de rei desses seres desengonçados, e assim delegue tarefas e brincadeiras pueris, mesmo que algumas delas custem rachaduras nas relações e exponham problemas mais profundos, sempre de uma maneira muito delicada.
    Há também cenas para reflexão, sendo extremamente bem executadas, por levar em consideração que uma parte do público-alvo é justamente a criançada. Por isso a leveza é imprescindível. Em uma destas, Max e Carol passeam por um deserto e Carol diz:
 - Essa parte do reino não é boa.
 - Por que? - retruca Max.
 - Olhe, isso era uma rocha velha e agora é areia. E então algum dia será pó, e então toda ilha será pó, e... e então nem sei o que vem depois do pó.
    Outra cena, logo após a citada acima, também revela complexidade por meio de diálogos simples . Quando Carol explica como nosso mundo pode ruir sem nem mesmo nos darmos conta: "sabe quando um de nossos dentes está caindo lentamente, e ... você não percebe, e então só nota quando realmente está caindo. E então um dia... você não tem mais dentes."

     Como dizem, as crianças falam coisas sinceras na mais pura inocência. E assim também é conduzida a película, discutindo temas que percorrem desde o medo do desconhecido e do outro, a questões relacionadas ao ciúme, a mentira, passando até mesmo pelas limitações e imposições que uma convivência pode proporcionar. Tudo isto, é claro, sugerido na maior sultileza e com uma belíssima trilha sonora. É ... parece que os monstros vivem em nosso interior.

Nota 9
Para assistir a qualquer momento, com leveza, mas se puder foque nas sultilezas e mensagens implícitas.

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